sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Introducing Miss Angel

Já me perguntaram o motivo do nome do meu blog, "Anjo das Trevas". Na verdade, o anjo a que me refiro não sou eu. Foi um anjo que surgiu na minha vida, fruto da minha mente perturbada, alguns outdoors de filmes de terror e noites insones escrevendo. Um anjo sempre presente em minha mente, junto com o qual eu já sorri, comemorei, chorei e sofri. Apresento-a agora a todos, meu personagem mais amado: Angel.


Guerreiros nas Sombras

I

Lembrança de um beijo


Angel abriu o diário e releu o primeiro parágrafo daquele dia, três anos atrás, 13 de maio, sexta-feira...

“Querido diário, hoje é um dia muito especial pra mim. O Mauro me convidou pra sair!”

Fechou os olhos. Lembrava-se como se fosse segundos antes...

Naquela época, Anna Carolina ainda não era Angel. Era uma menina de 15 anos, rosto rosado, grandes olhos verdes muito claros e longos cabelos negros. Ingênua e romântica, estava completamente apaixonada pelo garoto novo do bairro, mesmo conhecendo-o há apenas dois meses. Absolutamente inexperiente no que dizia respeito aos garotos, estava sentindo o gosto meio doce, meio amargo, do primeiro amor. Pensava nele o tempo todo, chegava a ignorar as amigas e a família... Nem sabia como Mauro tinha reparado nela, já que só conseguia ficar sem fala e vermelha quando olhava para o rapaz; mal conseguira dizer seu nome quando ele perguntou. Dois dias antes, ele simplesmente se aproximara quando estava voltando da escola e perguntara se ia fazer algo na sexta à tarde. Ao sacudir nervosamente a cabeça, surpreendeu-se: Mauro segurou sua mão trêmula e perguntou se queriam ir ao cinema. Sim, “queriam”, afinal, Marcello Gattai fazia o tipo paizão ciumento, e nunca deixaria sua menininha sair com um garoto se não levasse ao menos a irmã mais nova junto. Depois de muita insistência e de garantir que Júlia iria junto, recebeu autorização dos pais para sair.

Mas na volta, como Marcello ainda não havia chegado, deixaram Júlia em casa e foram dar uma volta no quarteirão. Ansiosa e feliz, Anna não sabia o que fazer, onde enfiar as mãos... Já ia colocá-las no bolso, quando Mauro segurou seu pulso e depois desceu os dedos lentamente para entrelaçá-los nos dela. A menina sentiu um arrepio descer por sua espinha. O contato com a mão gelada do garoto disparou seu coração adolescente. Mal podia esperar pelo que viria a seguir!

Pararam na rua deserta dos fundos do cemitério. Mauro virou-a de frente para si e a encarou. Anna sentia o sangue martelando com força em suas orelhas, e se sentiu ridícula, como se ele pudesse ouvir sua pulsação descontrolada. O barulho parecia tão alto que ela se surpreendeu quando o rapaz falou baixo e, mesmo assim, conseguiu ouvi-lo:

- Anna...

- Sim?

Palavras não eram mais necessárias. As mãos de Mauro encontraram sua cintura, e as de Anna se acomodaram na nuca dele. Aproximaram-se mais, lentamente, e seus lábios se encontraram. A jovem temia que ele percebesse que era seu primeiro beijo, mas quando o garoto a abraçou perdeu o chão e as preocupações. Sentiu-lhe a boca úmida e fria, deliciosa, que parecia moldar-se na sua perfeitamente. No instante seguinte ele levou-a aos céus, tocando seu rosto com os lábios e seguindo pelo pescoço...

E, no tempo que leva uma batida de coração, ele a fez descer ao inferno.

A dor lancinante na jugular fez Anna lutar para libertar-se. Sentiu a carne sendo furada, as veias sendo rasgadas... A sucção dolorosa parecia fazer sair lâminas pelo ferimento; a sensação da língua morna em sua pele, forçando a ferida a se abrir mais, era quase obscena. Ele a segurava com força em seu abraço mortal, impossibilitando qualquer tipo de fuga. A menina pedia, em meio à nuvem de agonia, pela inconsciência...

Mas, quando seu pedido estava quase sendo atendido, ouviu um tiro. Uma voz masculina rouca sibilou, trêmula de raiva:

- Largue a menina, Whitney.

A dor parou e Anna foi ao chão. Suas mãos, já insensíveis pela perda de sangue, apertaram o pescoço. Luzes lampejavam diante de seus olhos, misturadas a pontos escuros que dançavam, impedindo que visse o rosto de seu salvador ou qualquer outra coisa. Ouviu mais tiros, e depois o silêncio tomou a rua novamente. Virou-se para a direção de onde a voz viera, e forçou a visão embaçada até conseguir divisar um rapaz todo de preto e com óculos escuros – algo no mínimo estranho, levando em conta que já eram oito horas da noite. Ele se vestia todo de preto, e mesmo não podendo confiar muito em seus olhos enevoados, tinha certeza de que o jovem teria, no máximo, uns vinte e dois anos. Depois de guardar a arma, o estranho agachou-se diante dela e tirou os óculos, fazendo Anna quase desmaiar de vez.

Seus olhos eram amendoados e felinos, e as pupilas negras se destacavam nas íris escarlate raiadas de vinho. Nos cantos dos lábios descorados entreabertos podia ver os caninos superiores alongados e pontiagudos. O rosto era de um róseo pálido, acentuado pelos cabelos negros lisos e despenteados.

Um vampiro.

- Fique calma, tá? – a voz era rouca, gelada, profissional, parecia a de um médico pronto para lidar com um câncer terminal no cérebro ou algo do gênero – ele já foi embora. Você foi mordida por um vampiro, não vai ter muito tempo de vida agora... Transmitimos um vírus mortal, vai te matar em menos de doze horas. Posso dar um jeito nisso, se quiser.

A dor fazia sua cabeça girar. Anna sacudiu-a para clarear as ideias e ouviu-se dizendo:

- Não.

- Garota, você não entendeu. Você vai morrer. Depois de horas agonizando e desejando a morte, você vai deixar de existir. Não estou brincando.

Ela ergueu os olhos cheios de lágrimas e determinação.

- Nem eu.

- Mas o que você acha que...

- Me torne uma vampira.

- O QUÊ?

Ele arregalou os olhos inumanos, a boca entreaberta de surpresa mostrando as pontas afiadas dos caninos. A menina o encarou. Raiva, ódio, rancor, determinação: nem sombra da decepção amorosa de minutos atrás. Com um olhar penalizado, o rapaz estendeu a mão para tocá-la. E ela segurou-lhe o pulso.

- Não. Eu não quero morrer. Não aqui, nem agora. Quero matar aquele desgraçado primeiro.

O vampiro olhou para a mão frágil, porém firme da garota. Pareceu pensativo por um instante. E cedeu:

- Tudo bem então. Levante-se.

Anna soltou-o, e dessa vez foi ele que a pegou pela mão, para ajudá-la. Quando ficou de pé, ela o olhou nos olhos, que lentamente passaram de rubros a castanho-claro. Estranhamente, não tinha medo.

- Eu sou Anna. Ou pelo menos era.

- Tenebrus. Seja bem-vinda ao inferno.



Esse é o primeiro trecho pronto do capítulo 1. Assim que a preguiça permitir vou continuar reescrevendo, revisando e postando, ok?
Bjos a todos...
=^.^=

Nenhum comentário: