domingo, 9 de maio de 2010

Hello!

Passando por aqui depois de um tempão... Bom, como prometido, cá está. Mais um começo de alguma coisa, que logo mais vou continuar. *Mão sobre a boca* Juro pelos meus caninos!

Kissus...





Sangue bastardo

“Trisha é uma garota estranha”. Era essa a desculpa que sua mãe, Margareth, sempre dava quando indagada a respeito de sua jovem, rebelde e esquisita filha caçula. Trisha – ou Trashie, como as irmãs diziam para debochar dela – não era necessariamente feia, mal educada, inteligente demais ou de menos, ou qualquer outra coisa que a diferenciasse de modo gritante dos outros pré-adolescentes. Ela era só... estranha. E ponto final.

Magra, pálida, cabelos castanhos curtos, olhos cor de mel. Sempre de preto – não tinha uma única peça de roupa mais clara do que cinza-chumbo – sempre com os ouvidos tampados pelos fones de seu MP3 player, sempre sempre cantarolando um rock 'n roll, com um cigarro preso no canto dos lábios. Fumava desde os dez anos, e não fazia a mínima questão de esconder. Escondia, isso sim, o corpo ainda sem formas de mulher com camisetas e moletons masculinos, jeans folgados e jaquetas de couro. Razoavelmente alta para seus 12 anos, poderia passar-se por um jovem rapazinho quando não usava seu forte delineador preto nos olhos.

Filha de uma executiva de revista de moda, órfã de pai, duas irmãs mais velhas (22 e 19 anos), Trisha era a ovelha negra da família. Elizabeth e Mary Jane tinham tinham os olhos verdes e cabelos loiros da mãe. Só ela tinha saído estranha na aparência e no comportamento, tanto que Margareth atribuía ao péssimo gênio e à origem latina do falecido marido. Inúmeros detalhes também a afastavam das outras, como seu gosto para roupas e música. Garota amargurada e séria, não gostava de ficar em casa, tinha poucos amigos e odiava tudo o que dissesse respeito ao pai.

É essa menina que vamos encontrar, às três horas da manhã, chegando na casa da mãe com mais dois amigos. Quem visse a cena mais de longe juraria que eram três rapazes. Somente quando passaram sob a luz de um poste que a lâmpada iluminou o rosto fino da garota, com olhos muito marcados pela maquiagem. Usava calças jeans folgadas, uma camiseta enorme com os dizeres “fuck the system” ajustada na cintura por um lenço e blusão de moletom. Os meninos vestiam-se de modo parecido, com a pequena diferença que não pareciam ter roubado as roupas de um jogador de basquete.

– Então, Trish – disse um deles, alto e mais magro que os amigos – não tem problema chegar a essa hora?
– Relaxa, Dave – ela deu um trago no toco de cigarro e jogou-o longe, antes de cuspir no chão – aqui eu me sinto mais segura do que na Quinta Avenida às duas horas da tarde.

O outro rapazinho riu. Deu um gole na lata de Coca Cola com alguma coisa alcoólica e forte comprada horas atrás em um posto de gasolina, e pegou um cigarro no maço.

– Empresta o isqueiro, Trish?
– Toma.

Ela jogou-lhe o zippo falsificado, que o menino pegou ainda no ar. Chegaram à porta da casa de Margareth, e sentaram-se na calçada. Trisha largou-se no chão e apertou o estômago com uma das mãos, fazendo cara de dor.

– Você tá bem, baixinha? – perguntou David, preocupado.
– Mais ou menos. Minha gastrite anda meio louca.

Continuaram conversando alto, rindo, um celular tocando Dead Kennedys em volume suficiente para incomodar dois quarteirões, bebendo e fumando. Depois de mais ou menos meia hora, Dave passou as mãos com força pelos braços.

– Nossa... deu um arrepio louco do nada!
– Seu frouxo – riu o outro menino – tá com friozinho porque a mamãe não pôs a blusinha na mochilinha?
– Não, seu retardado – David franziu as sobrancelhas escuras – não é frio. É... sei lá. Um bagulho estranho.
– Larga mão de ser idiota, Dave – riu Trish – foi só um vento frio. Falei pra você pegar uma blusa, que a gente ia ficar na rua até de tarde.

Mas nem o argumento da menina pareceu convencê-lo. Ele ficou calado, bebendo seu refrigerante, os olhos fixos no nada.

E de repente, o nada não estava mais lá. Tinha dado lugar a alguma coisa.

Alguma coisa era uma figura esbelta de branco, que vinha subindo a rua devagar, com um brilho prateado nas mãos: uma faca? Muito longa. Parecia ser uma espada.

ESPADA?

– Cacete, Harvey, que merda tem nessa Coca?

Com o grito dele, os outros se voltaram na direção para onde ele olhava. Nada. Trisha riu, nervosa: tinha se assustado.

– Caramba, Dave, não faz isso comigo.
– Mas tinha... tinha uma pessoa...
– Essa merda tá fazendo mal pro seu cérebro. Melhor vocês dois irem embora, eu também tenho que entrar.
– Mas...

Ele olhou uma última vez para a direção de onde vira a pessoa de branco, atordoado. Não entendia aquilo...

David se orgulhava de ter sentidos aguçados. Sentia o cheiro do perigo, como dizia Trish. Muitas vezes salvara os amigos de serem pegos pela polícia com coisas ilícitas, já salvara a “baixinha” de ser pega fumando na escola, já tinha inclusive percebido quando e onde iam ser assaltados, mais de uma vez. Por isso, quando seu “sexto sentido” disparou, não hesitou em agarrar Trisha e jogar-se com ela no chão – para sentir uma lâmina passar zunindo por cima de suas cabeças e cravar-se no portão da casa da amiga.

– QUE MERDA É ESSA?!?!

A menina desembaraçou-se dele e ficou de pé, furiosa, olhando em redor. Subitamente, como num estalo, uma mulher apareceu diante dela. Era loira, com cabelos tão claros que pareciam prateados, e os olhos cinzentos eram quase brancos. Usava um longo casaco de couro branco, por cima de um traje de esgrima também branco. Em sua mão direita, levava uma estranha espada de gumes prateados e centro da lâmina negro.

Ela se curvou graciosamente como uma bailarina.

– Prazer em conhecê-la, Trisha Van Krueger.
– Trisha o quê?!

A garota encarou-a, perplexa. Até onde sabia, seu sobrenome era Taylor...

Mas não teve muito tempo de considerar, pois a estranha ergueu a espada e apontou-a para a garganta de seu alvo que, obviamente, era só a menina.

– Nada pessoal, querida, é só meu dever como Redentora. Adeus.

Foi ato reflexo: ela golpeou, e Trisha abaixou-se, apoiando uma das mãos no chão e girando o corpo numa rasteira. A mulher de branco saltou para trás, evitando o golpe, e ela se levantou, empunhando a espada.

– Ótimos reflexos, pirralha. Mas você não é páreo pra mim!
– Sai de mim, sua louca!

A “Redentora” avançou para Trish de novo, e dessa vez foi surpreendida por Dave, que pulou em suas costas, dando uma chave de nuca. Não foi necessário muito esforço para atirá-lo de costas no chão, mas foi tempo o suficiente para Trisha pegar a “butterfly” e atacá-la.

Mais de cinco anos brigando na rua tinham dado à menina coordenação e frieza. Ela atacou, enterrando a lâmina até o cabo entre os seios da mulher. A sujeita soltou um gemido abafado e desabou para trás.

Os três não quiseram nem olhar. Voltaram-se e saíram correndo.




Matei uma pessoa.

Foi o primeiro pensamento que Trisha teve ao acordar, antes mesmo de abrir os olhos. Quando finalmente despertou, olhou em redor e viu que estava em seu quarto, a bagunça de costume, com David estirado no colchonete aos pés de sua cama, tudo aparentemente normal. Sequer tinham tirado os sapatos para deitar. Ela enfiou a mão no bolso da calça jeans, procurando a butterfly, e respirou aliviada ao sentir o cabo metálico entre seus dedos. Tinha sido um sonho. Respirando profundamente para tentar fazer o coração voltar ao batimento normal, sentou-se na cama.

Assim que levantou a cabeça, teve uma forte tontura. O quarto pareceu girar ao seu redor, e o estômago revirou-se todo. Sentiu a acidez do vômito na garganta, e inclinou-se para fora da cama, despejando tudo. Uma golfada de Coca misturada com sangue espalhou-se no chão.

– Dave... – gemeu, assustada.

O garoto resmungou alguma coisa, sem acordar de fato. Trish vomitou mais sangue, os olhos enchendo-se de lágrimas. Sua visão embaçou-se em vermelho.

– Dave... David, me ajuda...

Ele sentou-se no colchonete, esfregando um olho. Ao ver o que acontecia, pulou para fora do colchonete e precipitou-se para a cama, amparando a amiga.

– Trish, você tá bem?
– Não sei.... mas tá... queimando...
– Onde?
– Aqui.

Ela pôs a mão sobre o peito magro. No coração. O rapaz tirou-lhe a blusa de moletom, e assustou-se com a palidez dos braços expostos. Trish parecia extremamente frágil, quase desmaiada. Os ombros que se projetavam para fora das mangas cortadas da camiseta eram absurdamente magros e pequenos em comparação com o tamanho da roupa. A pele dela estava gelada, a respiração rasa. Dave viu, desesperado, os olhos claros dela revirando e se fechando devagar.

– Trisha! TRISHA! Trisha, acorda!

Foi quando ouviu batidas na porta. Opa. Tinha se esquecido de que entrara escondido na casa da amiga.

Teve de pensar e agir rápido: jogou a garota desacordada na cama e puxou o lençol sobre ela. Torcendo para quem quer que fosse não ter ouvido sua voz, enfiou-se no armário, em meio a jaquetas, calças emboladas e camisetas amassadas. Fechou a porta, dedos cruzados, quase ao mesmo tempo que Margareth entrava no quarto.

– Trisha!

Um bolo gelado pareceu escorregar lentamente por sua garganta. Ela ia perceber que Trish não estava bem. Com toda a certeza. E ia, no mínimo, chamar as forças armadas. Pelo que conhecia da mãe de sua amiga, não demoraria dez minutos para ela encontrá-lo ali...

– O que foi, mãe?

Como é que é?

– Que horas você chegou em casa, garota?
– Três e meia da manhã, por quê?
– E isso lá são horas de chegar? Trisha, você tem doze anos! O que os vizinhos vão pensar?
– Treze depois de amanhã, mãe. E eu estou pouco me lixando para o que os vizinhos pensam!
– Trisha Celine Williams Taylor! O que você acha que os tabloides vão dizer se um paparazzi fotografa a minha filha mais nova com um bando de marginais em plena madrugada no meio da rua?

David sabia que Margareth não era lá sua fã número um, mas mesmo assim sentiu suas tripas fervendo de raiva daquela mulher estúpida. E estava preocupado com Trish...

– Talvez não digam nada, assim como quando pegaram Mary e Liz bêbadas na balada, e você pagou pra não sair nada nos jornais, não é?

– Isso já é um assunto diferente, e... que negócio é esse no chão?
– Bebi vinho ontem, e vomitei.
– Sua porca! Vou chamar Elise para limpar isso, e quero você debaixo do chuveiro antes que eu saia de casa!
– Tá certo, mamãe.
– Insolente.
– Também amo você.

Margareth saiu, batendo a porta. Assim que teve certeza de que era seguro, Dave saiu do armário.

– Trish, sua louca! – sussurrou ele, furioso com o ar de riso no rosto da amiga – eu lá, botando um ovo por sua causa, e você tá bem!
– Relaxa, Davy. Foi só um desmaio, já tô bem. Deve ser por causa daquela porcaria que a gente bebeu ontem.

Ela sorriu. Não o fazia muito, mas deveria, pensou o garoto. Isso a deixava mais... não necessariamente bonita, mas... sim, bonita mesmo. David sentiu as bochechas corarem. Eram parceiros de copo e ela era quatro anos mais nova, melhor tirar essas ideias erradas da cabeça.

– Bem, acho melhor você tomar banho. Sua mãe tá uma fera.
– Beleza.

Ela pegou uma roupa limpa e foi para o banheiro. O rapazinho olhou para a poça de vômito no chão. Não tinha o cheiro ácido característico, cheirava a sangue puro. Não sabia como Margareth não tinha percebido. Jogou-se na cama, braços cruzados sob a cabeça, e pôs-se a pensar no sonho estranho que tivera...





Trisha ligou o chuveiro e entrou debaixo do jato quente, a cabeça dolorida baixa, sentindo a água bater bem no topo dela. Não queria alarmar David, mas os enjoos continuavam e ela sentia como se tivesse uma cinta de ferro envolvendo o crânio e apertando. Calafrios e calores se misturavam em sua pele, subindo e descendo pela coluna e pelos braços. Lágrimas de dor começaram a escorrer por seu rosto, e novamente sua visão embaçou, como se alguém tivesse jogado tinta vermelha no para-brisa de um carro. Ela não sabia se as gotas escuras que caíam no chão eram vindas de seus olhos ou de seus lábios com gosto de ferro. Um líquido quente escorria de seus ouvidos, e o cheiro de sangue inundou o banheiro. Trish se agachou, mãos cruzadas sobre o estômago, e vomitou um jato quente e ácido. Respirar doía. Arfando, ela sentou-se no chão, encostando a testa nos azulejos gelados. Aos poucos, a dor foi se dissipando. À medida que o ar voltou, ela começou a se levantar, até alcançar os registros do chuveiro. Desligou a água quente e ligou a gelada, suspirando quando o líquido frio aliviou a queimação de seu corpo. Sentiu-se revigorada.

De olhos fechados, deixou-se lavar pela ducha. Quando seu lábios começaram a tremer, passou o sabonete pelo corpo, enxaguou-se e saiu. Pegou a toalha e enrolou-a no corpo, secando-se rápido. Enquanto esfregava o cabelo para secá-lo, olhou acidentalmente no espelho. Sentiu o sangue gelar nas veias e o ar ser drenado dos pulmões.

Escrito na superfície embaciada de vapor estavam palavras ameaçadoras, que a fizeram lembrar imediatamente do... sonho (?) da noite anterior. Feliz aniversário, bastarda. Saiba que será seu último. Logo abaixo, à guisa de assinatura, o desenho de um peão de xadrez.

3 comentários:

Jessica Borges disse...

Oi Maninha!
Gostei do começo, tava sentindo falta do velho estilo pancadas caçadores XD
Continua logo, viu?
bjo

Adriana Rodrigues disse...

Se você não continuar, a loira do banheiro vai te pegar, viu? ò.ó

Aliás, tava aqui lembrei de uma coisa... Vc aceita ser leitora beta do Conservatório? :D Sem limite de tempo, sem pressão? :D

Kate Sales disse...

Ooooi!

Vou continuar logo, gente. Prometo!

*palavra de Caçadora ^^*

Bom, Strix, quanto a betar O Conservatório... wow... honra master! Se não tem limite de tempo, posso sim sim!!!!

Já estou trabalhando na continuação, entquano digito a Angel 1... logo logo eu posto a primeira parte dela por aqui tbm!

Kissus..