quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bom... só tirando as teias de aranhas, mesmo sabendo que ninguém lê essa joça ¬¬'


Continho ainda sem nome
- Sua vez, Lene!

Helena soriu suavemente, meio aérea, daquele jeito que só ela sabia sorrir. Desceu da cama, e sentou-se no chão. Aquela era uma das poucas diversões que tinham no internato católico, onde freiras com cara-de-maracujá-de-fim-de-feira davam aulas de piano, etiqueta e religião. E a garota de olhos castanho-dourados era a especialista naquilo.

- Que história você vai contar hoje, Helena? - perguntou Cèleste.

O sorriso doce de Helena se ampliou.

- Sobre vampiros.

----------------------------------------------------------------------
Pierre nunca acreditou em vampiros. Nem em lobisomens, bruxas, fantasmas ou qualquer outra coisa do gênero. E por isso sempre olhava indiferente para o casarão abandonado, que sinalizava o fim da cidadezinha de Lansquenet-sous-Tannes. Sabia que outros garotos de sua idade tentavam parecer corajosos entrando na velha mansão abandonada, cuja história ninguém sabia bem ao certo. Uns diziam que era da época de Napoleão, outros diziam que era um refúgio dos huguenotes, havia quem dissesse que era o lar de bruxas fugitivas da Inquisição Espanhola. Ele achava que na verdade aquela casa tinha sido construída por algum milionário excêntrico, e que os adultos só contavam histórias sobre ela por que não queriam que entrassem lá.

Ele tinha mais o que fazer além de ficar fazendo suposições sobre a casa. Tinha que estudar, conseguir entrar numa universidade, sair da cidadezinha cinzenta e cheia de mexericos. Tinha dezessete anos, e morava com uma tia, irmã de sua mãe. Era um bom garoto, só um pouco sério demais...

Naquela tarde, ele voltava do trabalho como sempre. Trabalhava na cidade vizinha de Rhodes, e queria voltar para a casa a tempo de comer alguma coisa antes de ir para o colégio. Mas em todo o caso, levava a mochila, para se não desse tempo.

Oh, vida maldita!

Passou diante da casa abandonada. O Sol já declinava. Pierre apressou o passo. Não tinha medo - afinal, o escuro é igual à claridade, mas com as luzes apagadas , como falava a tia - mas queria mesmo comer algo antes da escola...

O mato crescia alto dos dois lados da estrada, se tornando mais baixo apenas na estradinha que levava à entrada da mansão. Como se, apesar da aparência de abandono, a velha construção ainda fosse visitada, como se pés humanos amassassem a grama alta vez por outra.

Mas é claro que entra gente aí. Outro dia mesmo a galerinha do George estava aí dentro, fumando maconha e lendo revistas pornográficas...

Um vento frio soprou pela estrada, fazendo com que o rapaz se arrepiasse. Ele esfregou os próprios braços, assustado, depois riu. Estava ficando impressionável, para se assustar com tão pouco...

Continuou andando. Agora estava quase que completamente escuro. Ao passar diante da estradinha que levava à casa antiga, uma silhueta escura saiu do lado oposto da estrada principal, e subiu pela alameda, mais uma vez assustando o rapaz. Pierre riu nervosamente mais uma vez. Era só um gato, com toda a certeza. Resolveu, só para provar a seus nervos trêmulos que estavam enganados, entrar na alameda. E foi o que fez.

- Psss, psss, bichano...

Chamou várias vezes, até ver os olhos alaranjados do gato, já na porta da casa. Teve um sobressalto quando julgou ver um terciero olho no gato, mas depois viu que era o reflexo da já escassa luz do poente numa medalha de identificação. Talvez o gato fosse de Lansquenet, pensou ele, ajeitando os óculos que tinham escorregado para a ponta do nariz. E talvez fosse de uma dessas velhas malucas capazes de dar fortunas só para ter suas bolas de pêlo ambulantes de volta.

Deu um sorrisinho nervoso, e decidiu ir atrás do gato. Mas antes que chegasse à metade do caminho, o bicho entrou pela porta arrombada da casa.

Droga!


Um rapaz mais sensato teria ido embora. Mas Pierre já tinha recebido adrenalina suficiente no sangue para ignorar a sensatez. Entrou.

- Psss, psss, chaninho... vem cá, gatinho...

Viu uma sombra escura correndo na direção de uma porta entreaberta. Foi atrás dela.

Abriu totalmente a porta, mas nem ligou para o rangido. Tudo o que queria era pegar logo aquele gato estúpido e se mandar. Ignorou a vozinha em sua cabeça, que dizia que ele poderia muito bem ir embora sem o gato.

Viu um brilho vindo de um canto do aposento escuro.

- Vem aqui, sua bola de pêlo nojenta!

Mas o que ouviu em resposta não foi um miado, e sim uma risada doce, cristalina e arrepiante:

- Como quiser, meu caro...

-------------------------------------------------------------------------------

- Não gostei.
- Nem eu.
- Muito seco.
- Isso aí.

Todas as garotas concordaram em uma coisa: Helena estava perdendo o jeito para contar histórias de terror. Voltaram cada uma para sua cama, e foram dormir.

Lene foi a última a ocupar seu leito. Dormiu com um sorriso nos lábios. Felizmente agora não ficariam mais enchendo para que contasse histórias de terror.

--------------------------------------------------------------------------------

Sábado. Finalmente uma folga do maldito internato. Todas as garotas olhavam com inveja para Helena, que correu para receber um beijo do namorado, Gèrard. Ele tinha ido buscá-la para passearem juntos.

- Como foi a semana, Lene?
- Legal.
- Você contou, não foi?
- Aham.
- Sua pestinha. Elas vão desconfiar - empurrou os óculos para cima - vamos logo, ou vai ficar tarde.

Nenhum comentário: