quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Conto

Não sei se ficou bom... mas mesmo assim vou me arriscar a postar.

Chuvas de novembro

- When I look into your eyes

I can see a love restrained
But darlin' when I hold you
Don't you know I feel the same


Ligou o chuveiro, e deixou a água acariciar-lhe os músculos cansados com dedos quentes e delicados. Sorriu. Aquela noite seria a noite.

Tomou um banho completo, longo, com direito a lavar os cabelos com xampu (coisa que muito raramente fazia) e a cantar debaixo do chuveiro. Geralmente escolhia músicas agitadas, marcadas por riffs de guitarra que imitava aproveitando a solidão do boxe enfumaçado, mas dessa vez preferiu um som mais melódico e lento. Sua voz ecoava nos azulejos do banheiro, enquanto ele tentava alcançar o inalcançável - os agudos de Axl Rose:

- So if you want to love me
Then darlin' don't refrain
Or I'll just end up walkin'
In the cold November rain...

Quando saiu, levou junto consigo uma nuvem de vapor d'água. Enxugou-se, e foi para o quarto. Vestiu-se com as roupas que a namorada lhe mandara vestir: uma calça jeans preta e camisa vermelha. Não sabia o motivo dela ter insistido naquelas cores, mas como a garota era cheia de manias, não estranhara.

Preparou o jantar com cuidado absoluto. Quando Jeannie chegou, estava tudo pronto. A campainha tocou, e ele correu para atender.

Abriu a porta, mas o sorriso deu lugar a uma expressão de espanto ao vê-la.

- Uau, Jean, você está... fantástica!

Ela apenas sorriu levemente, um sorriso que mal tocava-lhe os lábios. Estava linda, num vestido de seda vermelha com saia até os joelhos meio rodada, sem mangas, com um decote redondo quase que infantil. Os cabelos negros eram afastados do rosto por uma tiara prateada enfeitada com pequenas rosas feitas de vidro vermelho.

- Obrigada, Tony.
- Entre.

Cumprimentaram-se com um beijo. O rapaz sentiu o cheiro doce e sedutor do perfume da namorada envolvê-lo. Ela era perfeita...

Por que diabos eu insisto em correr atrás de ossos na rua, se tenho a Jeannie em casa? Dessa vez é definitivo: vou sossegar, pedir a Jean em casamento e parar com essa cachorrada!

O jantar foi perfeito. Mas Tony não se lembrou sequer do que comera. Estava por demais absorto em Jean. Algo nela estava diferente. Algo estava mais maduro, mais sério em seu olhar. Mais triste...

E pela primeira vez desde o início do namoro foi ela quem sugeriu que fossem para a cama. Tony acedeu, extasiado com a súbita mudança dela. Foram para o quarto.

- Jean, eu...
- Não fale nada, Tony. Só... só me beije.

Ela sorriu ternamente para a jovem. Segurou-lhe o rosto com as duas mãos, e tocou seus lábios nos dela com delicadeza.

- Jeannie, meu amor, casa comigo?
- Já é tarde demais, Anthony.

Ele sentiu uma dor aguda rasgar-lhe o ventre. Tentou gritar, mas tudo o que conseguiu foi soltar um gemido rouco. A faca mergulhou de novo em seu corpo, e de novo, e de novo, e de novo. Até que ele desabou na cama, de barriga para cima, olhos vidrados no teto. Jean sorriu tristemente, fechou-lhe os olhos e o beijou nos lábios.

- Meu erro foi te amar demais, Tony. Eu pensei demais em você e esqueci de mim mesma. Mas agora vou consertar isso, querido. Vamos embora juntos, sob as chuvas de novembro...

E atravessou o próprio coração com a lâmina.

2 comentários:

Jessica Borges disse...

Muito bom, d. Kate.
Só não só não gostei de você ter começado justo com esse conto...
Não sou a maior fã dele.

Anônimo disse...

Nossa msm, Pontas...
Show de bola...
A Aluada nao eh fã do conto? Pq???
Eu gostei...
Mto bom...

Bjinhos...